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Diversas têm sido as iniciativas, oriundas de uma complexa, multivariada e multiescalar teia de cooperação que congrega sociedade civil, movimentos sociais, organizações não governamentais e poder público, eventualmente empresas, que buscam construir alternativas de ação sobre a cidade, em contraposição ao urbanismo tecnocrático que balizou as políticas urbanas e que, sob vários aspectos, ainda persiste. Esse amplo mosaico de iniciativas e práticas está relacionado a diferentes formas de relação com as esferas de governo e acesso a recursos, à diversidade de orientação política e graus de autonomia, bem como de alcance, de tempos de duração e consolidação das intervenções, além de envolver entendimentos distintos sobre essa ação coletiva na produção da cidade. 

Não por acaso, novos termos vão sendo cunhados e conceitos construídos para dar conta desse processo emergente e desafiador, que se quer ancorado em novos horizontes de cidade: co-urbanismo, urbanismo ativo, urbanismo de código aberto, urbanismo multitudinário, urbanismo tático, urbanismo performativo, urbanismo social são algumas das formulações que percorrem atualmente discussões acadêmicas, profissionais, governamentais. Tais proposições podem, em grande parte, ser entendidas como a busca de construção de novas práticas de produção e apropriação da cidade, algumas mais horizontais e colaborativas, outras mais orientadas para o mercado, acríticas. De todo modo, através de arranjos político-operativos diversos, elas pretendem promover o compartilhamento de conhecimentos, a construção de tempos e narrativas coletivas, a interação entre atores e a formulação de programas urbanísticos e de procedimentos que resultem da complexidade e variedade dos grupos envolvidos. Isto remete a duas vertentes fundamentais de reflexão.

A primeira delas diz respeito à noção do comum, objeto de crescente interesse no atual momento de crise e incerteza e que parece apontar para um novo campo de possíveis tanto no mundo das ideias políticas como no dos estudos urbanos. Longe de assinalar um marco de sociabilidade harmônica, o comum traz à tona uma certeza – a de que os conflitos e a precariedade das cidades contemporâneas são um problema comum – e um desafio político dado pela necessária recomposição desse comum a partir de práticas instituintes, colaborativas e igualitárias, não subordinadas às determinações do Estado e do mercado.

O segundo caminho reflexivo aponta para a cada vez mais evidente relação dessas iniciativas com o desenvolvimento de inovações e tecnologias sociais, entendidas como um processo do qual emerja um conhecimento criado para atender aos problemas enfrentados pela organização ou grupo de atores envolvidos, portanto considerando a tecnologia como uma construção social e não como fruto determinista de processos autocentrados e ancorados em racionalidade estreita.

Com o tema URBANISMO EM COMUM: novas formulações do urbanismo enquanto tecnologia social, o urbBA[17] busca enfrentar esses urbanismos diversos, problematizados através de três ângulos de abordagem: 1) os saberes e tecnologias que derivam da interação universidade-sociedade; 2) os bens coletivos produzidos a partir de iniciativas de moradores, movimentos e organizações; 3) a relação entre projetos coletivos e o exercício da democracia.

URBANISMO EM COMUM

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